Peak oil. Com duas palavras curtas, o professor sueco Kjell Aleklett, da Universidade Upsalla, tentou sintetizar o fim de uma era: a do petróleo. A expressão criada por ele indicaria o momento em que a produção mundial de óleo e gás atingiria seu ponto máximo, a partir do qual começaria inevitavelmente a declinar. Aleklett, que veio ao Brasil participar de um fórum sobre energia, falou com exclusividade à DINHEIRO.
E disse que esse momento - o do peak oil - já aconteceu. "Pouco antes do crash financeiro do ano passado, quando a produção atingiu 87 milhões de barris/dia", diz Aleklett. O sueco afirma que foi essa explosão dos preços do petróleo, quando o barril chegou a US$ 150, que fez eclodir a crise das hipotecas imobiliárias norte-americanas. "O gatilho da inadimplência nos imóveis foi a perda de renda provocada pela alta da gasolina."
O achado semântico de Aleklett acabou se tornando um dos temas mais debatidos dos tempos modernos. A expressão peak oil já foi usada em discursos tanto pelo ex-presidente americano George W. Bush como pelo atual, Barack Obama. E uma busca rápida no Google indica mais de dez milhões de referências. Muitas delas apontam um futuro sombrio, em que a economia global teria de se ajustar bruscamente à escassez de energia. Fábricas sem produzir, casas no escuro, carros parados e os aviões no chão. Bem-vindos ao Apocalipse e a uma nova era de guerras - Aleklett diz que a invasão americana ao Iraque foi causada pelo peak oil.
Fábricas sem produzir, casas no escuro, carros parados e aviões no chão. O Apocalipse energético poderá ocorrer, segundo Kjell Aleklett, se o mundo não repensar o modelo econômico
professor sueco é também cético em relação ao futuro. Presidente da ASPO, Associação para os Estudos do Peak Oil, ele diz que os países terão de repensar todos os seus modelos econômicos, começando, evidentemente, pelos sistemas de transporte. "Se você imaginar a economia de um país como uma casa, a energia é a sua fundação", explica Aleklett. "E sem a fundação nenhuma casa fica de pé."
Num planeta que terá 9 bilhões de pessoas em 2050, ele avalia que simplesmente não haverá recursos naturais no mundo para suportar toda a demanda de energia - considerando, é claro, o modelo econômico atual. E mesmo as descobertas recentes de novos campos de petróleo, como o pré-sal brasileiro, seriam muito pequenas diante do desafio. "Se todas as estimativas mais otimistas se confirmassem, seriam apenas alguns anos a mais de sobrevida do petróleo", diz ele.
"Além disso, o custo e as dificuldades para extrair esse petróleo são muito maiores do que os dos campos atuais." Apesar do alerta, Aleklett não é totalmente pessimista em relação ao Brasil. Ao contrário, o professor sueco nos aponta como uma das nações mais preparadas para enfrentar um mundo com escassez de petróleo. Especialmente em função da diversificação da matriz energética e do crescente uso de etanol nos veículos.
"O poder no século XXI pertencerá aos países em condições de buscar auto-suficiência em dois campos: energia e alimentos", diz Aleklett. "E hoje eu vejo apenas dois países nessa situação: Brasil e Rússia". O professor enfatiza a questão alimentar porque o principal insumo utilizado pela agricultura é justamente o petróleo. Portanto, a sociedade industrial moderna terá de repensar não apenas o modelo das cidades e dos transportes, como também da própria produção de alimentos.
Aleklett acredita tanto na sua própria teoria que decidiu apostar nela suas próprias economias. Embora tenha uma vida típica de classe média, ele tem ganho algum dinheiro com palestras e seminários ao redor do mundo. "Tudo que me sobra eu decidi alocar em ações de empresas da Rússia e do Brasil", diz ele. "Foi a melhor decisão de investimentos que eu já tomei." Na semana passada, o blog do professor sueco discutia uma nova previsão sobre os preços do petróleo feita pelo primeiroministro da Rússia, Dimitri Medvedev.
Segundo o chefe do Kremlin, o barril voltará rapidamente à cotação internacional de US$ 150. "A redução dos investimentos provocada pela crise já está semeando a nova disparada dos preços do petróleo", diz Aleklett. E no mundo traçado pelas previsões sombrias do peak oil, esse preço talvez esteja bem longe de representar o pico de valorização do barril. Há quem fale até em preços ao redor de US$ 500. Dias atrás, na Malásia, o presidente mundial da Shell, Jeroen van der Veer voltou a alertar para o próximo ciclo de disparada do petróleo, caso a economia mundial volte a crescer.
Leonardo Attuch